Ora, tem gente que diz: “Que é isso? Xixi como culto?”
Papai sempre fez todas as necessidades fisiológicas com prazer desde antes de se converter. Ele também comia e bebia com muita alegria. A natureza, então, ele sempre a comeu como mel. Mas depois de crer em Jesus conforme o Evangelho, ele passou de prazer e alegria à gratidão devocional em tudo.
Foi fazendo xixi ao lado dele [amazonense ama um xixi no chão e no mato] que aprendi a ouvi-lo dizer: “Ó meu Senhor! Obrigado por esse xixizinho!”
Então… — xixi, caquinha, suor, topada, coçada, queda, cafuné, água, banho, sabonete, perfume, terra, chuva, sexo, beijo, abraço, visão, audição, impressão, sonho, sono, trovoada, energia, braços, pernas, dedos, ereção, prazer, oração, colchão, cama, coração, canção, voz, dor, saúde, fraqueza, cansaço, ânimo, tristeza, choro, exultação; e tudo o que só se faz com respiração, em mim passaram a ser objeto de culto e gratidão antes, durante, depois, e sempre que me lembro ou experimento tudo isso e muito mais…
“Todo ser que respira louve ao Senhor!”—Sim! E o louve por tudo o que só se pode provar enquanto e quando se respira gratidão.
Cada ato de inspirar e expirar deveria [e deve] ser um ato de gratidão!
Quem dera pelo menos aprendêssemos com os indianos o significado benfazejo da respiração física [já nos faria muito bem]; e, a tal aprendizado, aliássemos a certeza de que a respiração é culto a Deus quando se respira em Deus em total gratidão.
Ora, tem gente que diz: “Que é isso? Xixi como culto?”
Jesus disse que não é o que entra pela boca e sai por onde deve sair o que contamina o homem, mas sim o que lhe procede do coração-mente.
Portanto, caso você não pratique tais devoções e gratidões por achá-las impuras, então sugiro diferente.
Sim sugiro que você agradeça pelos seus correspondentes interiores, e que existem em seu coração.
Sim! Agradeça e diga:
Obrigado pela minha inveja de hoje, pelo ódio que me pervadiu, pelos ciúmes que me surtaram, pelas ambições que me cegaram, pelos adultérios que me visitaram a mente; e pela indiferença que me habita; pelo medo de amar que me possui, pela ingratidão que eu pratico, pela murmuração que eu adoro, pelo espírito de comparação e competição que me nutre; e pela minha falta de amor e respeito próprios, pela minha insegurança, pela minha imensa carência, pela amável vaidade que eu alimento; e também, pela prostituição emocional que eu pratico, pelos enganos que eu realizo contra o próximo, pela minha língua venenosa, pelos meus ardis nunca descobertos; e também pela vontade de só viver pro que eu gosto, pela insatisfação de pão simples, pela normalidade banal da respiração; e pelo meu corpo bonito e que agora é malhado; pois, assim, todo mundo fica vendo apenas o que não sou.
Assim, eu pergunto: você já agradeceu pelo xixizinho de hoje?
Prive-se dele e você entenderá como perde a chance de agradecer sempre… Ora, isto sem falar nas outras coisas…
Nele, que considerou puras todas as coisas; exceto as que procedam da impureza do coração sem a Graça da gratidão,
Caio
06/09/07
Manaus
AM
…………
Leitura complementar:
A GRATIDÃO QUE SANTIFICA TODAS AS COISAS.
O Jardim de Alá é uma lugar de gratificação, com as setenta virgens dadas ao mártir da fé. O Nirvana é um lugar de dissolvência do ser-individual no mar do ser-sem-saber-que-se-é. De fato, conforme a Palavra de Deus, a eternidade é gratidão em estado infinito; não gratificação, como Jardim de Alá, e nem tampouco é dissolvência, conforme a eternidade no Nirvana.
A eternidade é em gratidão.
O que é, se experimenta como absoluta gratidão. Por isto, desde já, as ações de graças santificam todas as coisas, visto que as remetem para o que elas são: coisas boas, conforme o Criador da criação original.
No Tempo—ou na Terra—, onde se sente dor, o clamor da carne é por gratificação. Assim, gratificação é a deusa suprema; e até os que a negam, a ela se sujeitam no pólo extremo de seu antagonismo: o masoquismo; ou até o sado-masoquismo; ambas as coisas também são formas de gratificação, só que pervertidas.
Na Terra o sentimento que mais estupra o instinto animal é o da gratidão, e não da gratificação. A fim de treinar e domar um bicho, estimula-se isto mediante a gratificação. Mas a fim de se ter um homem cheio de consciência se terá que esperar pela instalação da gratidão no coração dele; visto que este novo homem jamais aparecerá antes de nele haver feito habitação a gratidão.
Gratidão é a última “conquista” do ser…nos mergulhar nesse estado de reconhecimento feliz de que todas as coisas de fato cooperam para o nosso bem…sem porquês e sem praquês…
A gratidão faz tudo fazer sentido, até quando tudo parece absurdo! Daí pra frente o mundo começa a se desproblematizar para gente. E tudo nele, no mundo, é simplificado para nós—até a morte—, pois a gratidão é a sabedoria feita doçura, não como compreensão, mas como entendimento.
Compreensão acontece na mente. Mas o Entendimento é visão do espírito, e sabe existir em paradoxo, visto ser possível alcançar entendimento espiritual daquilo que a mente não tem como compreender, a fim de poder explicar…
Mas a gratidão sabe explicar tudo o que não compreende, e a tudo entende como bom e bem, mesmo quando sabe só isto para si mesmo; ou ainda quando sabe em silêncio, doce silêncio, cheio de vozes felizes do coração, que celebram a bondade de Deus…entendendo até o que não se pode compreender, aceitando aquilo para o que não houve explicação que satisfaça a compreensão, discernindo aquilo que não está ao alcance dos sentidos, e se satisfazendo com todas as obras de Deus.
A gratidão é a maior invasão da eternidade no Tempo. A gratidão é a resposta do coração, cheio de Graça, aos fatos e percepções do ser.
A gratidão é a única força com poder de manter nosso olhar incontaminado pelas amarguras deste mundo. Graças a Deus pelo dom inefável em Quem Tudo se faz ações de graças.
Caio
Julho de 2004
……
Leitura complementar:
DEUS, QUE DAREI A TI?
Salmo 116
“Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?” — pergunta o salmista, em dias antigos, antes de se haver explicitado qualquer coisa que fosse base de doutrina acerca da Graça. Aliás, quando a Graça vira doutrina perde completamente a graça de ser Graça.
“Tomarei o cálice da salvação!” — responde ele a si mesmo, e a todos quantos como ele estejam gratos a Deus por Seus benefícios a nós concedidos todas as manhãs.
Ele está grato. Reconhece que o que lhe vem é dádiva, é bondade, é benção; ou seja: é bem-ofício; é oficio do bem; é bem em efetividade; é bem sendo executado em nosso favor: benefício.
Sim! É o Ofício de Deus ser bom.
Entretanto, como a gratidão sempre gera resposta, o salmista pergunta: “Que darei por tanto que recebo de Deus?”.
Ora, se esperaria que ele entrasse no inevitável esquema da barganha-grata; que é aquele que não faz promessa para… — alcançar nada; pois já lhe foi dado; já lhe está presente… Mas, ainda assim, a alma sempre quer restituir, mesmo que seja a Deus, como é natural.
Desejar dar quando se está grato é saudável e natural. Entretanto, muitas vezes, pela ignorância, é justamente neste ponto que a gratidão [resposta grata à ação de Deus em nosso favor] pode se tornar o que ela não é; ou seja: justiça-própria; ainda que justiça grata, e que diz: Deus é tão bom para mim que serei completamente bom por causa Dele.
Todavia, surpreendentemente, o homem do salmo não cai nessa doce armadilha!
Sua alma foi iluminada, e, ao perguntar a si mesma, não hesita acerca do que pode dar a Deus. “O que darei?” Então ele mesmo responde: “Tomarei o cálice da salvação!”.
Sim! Porque quem quer que a Deus deseje dar algo, só terá como fazê-lo se receber de Deus aquilo que seria a dádiva de Deus ao homem.
Ou seja: só tem para dar a Deus a resposta que recebe mais de Deus!
O que Deus quer dos gratos é que pela gratidão recebam mais da Graça de Deus; ou seja: que bebem o cálice da Graça.
Quem quer agradar a Deus logo aprende que a única maneira é não resistindo a Graça; e, assim, dando a Deus apenas a boca aberta e o coração ávido por beber mais de Deus!
O que tenho para dar a Deus por tanta Graça recebida?
Receberei mais Graça ainda como expressão de gratidão.
Assim, os que são gratos a Deus não fazem sacrifícios meritórios, mas apenas aceitam mais da Deus de Graça.
Deus derrama a Sua Graça sobre mim, e meu coração fica grato, e, assim, desejo dar algo a Deus, mas, no processo, realizo que só tenho a dar a Deus a disposição de beber e sorver o cálice da salvação gratuita até o fim.
A resposta da gratidão é se dar cada vez mais à Graça!
Bem-aventurados os que entendem assim; e assim procedem em fé!
Nele, que renova a nossa gratidão com mais e mais Graça todos os dias; assim deixando-nos prenhos da gratidão que bebe mais Graça ainda,
Caio
21/08/07
Manaus
AM