É verdade que os homens foram à Lua, mas essa verdade objetiva não mudou nada na existência de ninguém, exceto nas existências dos astronautas que experimentaram aquela realidade como verdade existencial.
DOIS MODOS DE SE OLHAR A VERDADE.
Eu me lembro que quando comecei a falar muito para pastores, sempre havia um grupo de americanos residentes no Brasil presentes nas palestras. Era o início da década de 80. O que me mais me impressionava é que aparentemente esses cristãos norte-americanos aceitavam tudo o que eu dizia, e até se alegravam. Mas sempre vinham com a mesma pergunta ao final: “Você disse ‘por que’ e ‘o quê’, mas não disse ‘como’”.
A questão é que nossas maneiras de refletir e pensar eram completamente diferentes. O que eles chamavam de “por que”, eu chamava de sentido.
O que eles chamavam de “o quê”, para mim significava “como”. E os que eles chamavam de “como”, para mim era método, e em métodos eu nunca consegui crer como verdade, apenas como circunstancialidade, e só tenho a tendência de valorizar o lugar onde ele (o método) nasceu de modo espontâneo, e onde se o pratica sem obrigação metodologica, mas de modo simples e natural.
Foi quando comecei a me dar conta de que jamais chegaríamos a nada em comum, visto que nosso modo de refletir nos empurrava para direções bem diferentes.
Ora, hoje eu penso que o modo de pensar deles bem expressa o modo de refletir na religião, especialmente os evangélicos, para os quais a verdade pode ser estudada.
Eles pensavam de modo objetivo. E para eles a verdade é um objeto passível de estudo e aprendizado racional. Já para mim, a verdade é subjetiva, e só pode ser apreendida como experiência no ser, em profunda subjetividade e visceralidade.
Ora, isto nos punha sempre em perspectivas de observação e valorização diferentes, e cada vez nos abisma mais em pólos bem diferentes.
À época minha convicção era que se o tema em questão fossem automóveis ou ações na bolsa de valores, poderíamos e deveríamos olhar para a verdade como algo objetivo, nesse caso, apenas como realidade. No entanto, em se tratando da verdade para a vida, jamais consegui imaginar que fosse possível ensinar a verdade para ninguém sem que a própria pessoa a experimentasse na vida, sendo que o processo é sempre interior, primeiro, e, às vezes, é nessa dimensão que permanece, quase que incomunicável, para o resto da vida.
Tenho consciência que minha certeza de que a verdade tem que ser experimentada à partir da paixão do ser por Deus, e que essa própria paixão de fé já é verdade em si, posto que se relaciona com Aquele que é, não é algo excitante para a maioria. De fato, a maioria gostaria que Deus fosse um ídolo visível, ou que Sua Verdade estivesse em Tábuas de Pedra (do lado de fora), e não do lado de dentro, no coração, imersa em mistério e absoluta subjetividade, só podendo ser experimentada pela fé apaixonada.
Não existe para o homem nenhuma verdade que possa ser conhecida como tal, com significado para a sua existência, e que não seja experimentada por ele.
É verdade que os homens foram à Lua, mas essa verdade objetiva não mudou nada na existência de ninguém, exceto nas existências dos astronautas que experimentaram aquela realidade como verdade existencial.
Eles, sim, nunca mais foram os mesmos!
Nós acreditamos naquela informação como verdade. Eles, os astronautas, conheceram nas vísceras aquela verdade como realidade, e a realidade como verdade.
Somente na subjetividade é que tal síntese é possível. Somente no ‘interior’ é que pode-se provar a verdade como realidade, e a realidade como verdade.
É por esta razão que Deus nunca mandou que se fizesse qualquer imagem Dele. Afinal, a verdade de Deus só pode ser conhecida como experiência de Deus na existência, e esta só acontece nos ambientes da subjetividade, no coração.
É por esta razão também que eu não consigo acreditar na teologia como instrumento de estudo de Deus ou da Verdade de Deus.
Simplesmente tais coisas não existem como coisas, portanto, não podem ser estudadas, podendo apenas ser experimentadas.
Ora, Deus é espírito, e o que Ele procura não são ‘estudiosos” de Seus caminhos, mas adoradores que andem em Seu Caminho, que é livre como o vento, que sopra onde quer. Por isto, somente os que nasceram no espírito andam confortavelmente nesse Caminho, visto que para eles não há Alguém a ser aprendido, mas apenas a ser Seguido, e conforme o testemunho do Espírito no coração.
Ora, tal testemunho não acontece sem referencias. Ao contrário, esse testemunho da Verdade em nós tem em Jesus o Caminho explicitado na existência, todavia, o caminho, como já vimos em outro texto, é ‘como’. E ele (o caminho) é apenas na medida em que ele acontece em realidade e verdade para aquele que por ele caminha. E como sabemos, é o caminhar do caminhante, seu modo de caminhar desde dentro, aquilo que de fato é o caminho.
É o modo do caminhante que chama o caminho à existência sob os seus pés!
Os que olham “de fora”—do mundo da objetividade—nada vêem além de imagem e movimento, e podem avaliar, muito de longe, alguma coisa, porém só o indivíduo é que sabe, em parte, o que de fato está experimentando.
Nesse caso, o que lhe sobram são apenas palavras, posto que ninguém o entenderá o crerá nele, à menos que também experimente.
Todavia, aquele para quem a verdade é um objeto para estudo, acaba por mergulhar na indiferença, posto que a verdade só realiza algo quando ela é experimentada em nós como amor, paixão e fé. Do contrário, ela mata a alma. A letra mata!
Mas para aquele que a prova na vida, na própria existência, pouco há para estudar como verdade, pois, de fato, tal tarefa é impossível. Assim, toda a energia do ser se concentra em vivê-la, em prová-la na vida.
Onde está a verdade?
Ora, se você tiver que encontrá-la, saiba, será apenas dentro de você, e você a experimentará como tal apenas se vivê-la na paixão da fé, em Jesus.
Nele,
Caio
……..
Leitura complementar:
A VERDADE NÃO É UMA QUESTÃO. A QUESTÃO É A VERDADE!
“O que é a verdade?” – era a questão de Pilatos!
O discípulo sabe que a Verdade não merece uma resposta, pois a verdade é o caminho e a vida.
Ora, se o discípulo já sabe isto, que dirá a Verdade de si mesma?
A verdade não pode ser encontrada num laboratório, num seminário, num livro ou numa bela reflexão.
Na realidade, a verdade é no caminho e na vida, e não há outro meio de acessá-la. Portanto, seu caminho é duro, e nos remete para a presença da morte, da dor, da perda e do sofrimento.
É pura ilusão pensar que alguém pode chegar à verdade assim como ele chega a uma “conclusão lógica”.
Não há lógica para se chegar à verdade. Ela acontece pelos caminhos da não-lógica, e não poupa ninguém de fazer a viagem se o objetivo é encontrá-la.
“O que é a verdade?” — foi a questão de Pilatos para Jesus.
Essa questão ficou não respondida; aliás, Jesus jamais responderia tal questão com uma fórmula. Não há uma equação para a verdade. Muito menos um pacote de doutrinas lhe serviria de embalagem.
Jesus não ensinou a verdade. Ele é a Verdade. Portanto, conhecer a Verdade é ter uma revelação acerca de quem Ele é. E isso só é possível se os olhos se abrirem para vermos os olhos dEle.
A pergunta de Pilatos é tola. Sofisticadamente tola. E da parte de Jesus tal questão é equivalente à uma outra: “Quem é meu próximo?”
A resposta de Jesus à segunda questão, “Quem é o meu próximo?”, nos leva para onde não queremos, visto que a resposta é uma história. E pior: nela, o próximo do próximo é alguém em quem não aceitamos a presença da verdade: um samaritano herético, como todo bom samaritano seria aos olhos de todo bom judeu.
“O que é a verdade?”
Para Jesus soava como se a Ele fosse perguntado: “Tu existes?”
“…vem isto de ti mesmo ou disseram-no outros a meu respeito?” — já havia sido a provocação de Jesus acerca de se Ele era rei ou não. Mas essa questão de Jesus traz a resposta acerca de tudo, sobretudo da Verdade.
Se Ele é a Verdade, a verdade existe; se Ele é a verdade, ela não se instala como uma informação de outros, mas tão somente como algo que “…vem de ti mesmo”.
Se honestamente alguém pergunta a Jesus “O que é verdade?”, só lhe resta ouvir “…vem de ti mesmo esta questão?”, ou ainda “…para isto nasci, para dar testemunho da verdade… quem é da verdade ouve a minha voz”.
Os ensinos de Jesus não são a verdade sem Jesus. Os ensinos de Jesus só são verdade por causa de Jesus, e não Jesus é a Verdade por causa dos ensinos verdadeiros.
Os ensinos de Jesus jamais me levarão à verdade se a Jesus eu não tiver sido apresentado e o tiver conhecido antes de tudo.
Sem Jesus, os ensinos de Jesus como ensino da verdade cegam e embrutecem na mesma medida em que são esmagadoramente insuportáveis.
Assim, para não enxergarmos que o Sermão do Monte não é um Sermão do Monte, temos que, em nós mesmos, reconhecê-lo, antes, como o Sermão do Abismo. Pois, sem Jesus, é para o abismo que ele me envia.
Ah, eu não quero os ensinos de Jesus sem Jesus! Eu apenas ficaria mais cego e mais perdido! Além disso, eles me serviriam apenas para me revelar minha própria mentira acerca de ser cristão, visto que sem Jesus, Seus ensinos me provam é que não sou cristão.
Jesus não chamou ninguém para ter aulas acerca da Verdade, mas sim para “segui-lo”… com todas as mentiras.
Ou não foi assim que Ele fez nos evangelhos?
“Siga-me” é o chamado de Jesus, que é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Assim, eu vou… como Pedro e os demais foram… cheios de dúvidas, mentiras, vaidades, porfias, disputas, entendimentos diferentes, expectativas distintas e muita tolice.
Sim, eles seguiram e tropeçaram… assim como nós.
Quem foi que nos convenceu de que somos melhores do que eles?
Pedro continuou a jornada… E mesmo depois de ter traído três vezes, traiu muitas outras vezes mais…
Algum deles se “desviou” da verdade?
Sim, mas apenas aquele que traiu o Caminho.
Todos os que ficaram no Caminho, mesmo andando e tropeçando em suas próprias mentiras e ilusões, conheceram a Verdade, visto que ela só acontece como experiência de “seguir”.
Não há um curso sobre a Verdade. O curso da Verdade é a Vida.
“O que é a Verdade?” — perguntou Pilatos.
A resposta que Jesus não deu foi dada na sutileza do “…vem isto de ti mesmo ou dizem outros a meu respeito?”
É como que dizer: “Se me vês e ainda perguntas, que tenho eu a dizer-te? Pois que o que eu teria a te dizer seria ‘segue-me’, mas isto não queres. Mas somente andando comigo poderias me enxergar, visto que estar em pé diante de ti não te revelou nada, mas apenas o que tu não sabes”.
Sim, meus irmãos, a Verdade não pode ser oferecida em pacote, e nem pode caber num credo, nem nos nossos dogmas.
A Verdade é Jesus, mas Ele determinou que o conhecimento da Verdade é revelação no Caminho, e o método é a Vida. Visto que a Verdade é Pessoa.
Só acredita que a verdade é um pacote quem crê que o amor também cabe num embrulho de definições.
Tudo o que concerne a Deus, a fim de ser meu, tem que ser vivido, e, primeiramente, como absoluta contradição e impotência até que eu siga as leis do Caminho, que, de fato são uma só: “Siga-me”.
Assim, sigo a Jesus mesmo, como fizeram os primeiros discípulos; ouço tudo o que eles ouviram, e ainda assim não cumpro tudo o que já sei. Sim, tropeço no Caminho para poder conhecer a Verdade como Vida.
Não adianta. Se Jesus é a Verdade — como de fato é —, então não posso pensar em conhecer a Verdade antes de conhecê-lO.
E assim, conheci Jesus; e Seus ensinamentos me serviram apenas para transgredir com mais dor ainda, pois logo vi que minha única verdade era ter chegado à armadilha da Verdade: “Para quem iremos nós? Só tu tens as palavras da vida eterna”.
Desse modo, o homem verdadeiro é aquele que segue a Jesus, mesmo tropeçando nas palavras, mas sabendo que a Verdade é Ele, o Verbo Encarnado.
O Cristianismo é que tentou responder a Pilatos, e, à moda grega, desenvolveu Credos, Dogmas, Teologias, Doutrinas e uma Sistemática para a Verdade — o que não é nada além de um pacote vazio.
Assim, somos da verdade se recitamos o credo certo, e se compramos o pacote de doutrinas corretas, enquanto nos assentamos, e dizemos: “Agora nós conhecemos a verdade!”
Pobres homens somos nós!
Jesus não tem doutrinas e nem credos. Por isso o samaritano é bom, apesar de seu credo errado.
Para Jesus, Perdão É perdão; Misericórdia É misericórdia…
Assim, Ele não nos chama para saber, mas para ser e experimentar.
“O que é a Verdade?”
“Ande comigo no Caminho que a Vida vai contar a Verdade a você!” — ouço Jesus me dizer. “Enquanto isso, siga-me, visto que é andando comigo que você conhecerá a Verdade, pois esta é a jornada da Vida.”
Caio
(Escrito em 2004)
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