Entretanto, o que me leva a evocar a memória do filme (2001) é o fato simples e poderoso que ele apresenta: a mente precisa de aferidores externos a fim de encontrar sua saúde e equilíbrio.
John Nash, brilhante, superdotado, venturoso em tudo o que fazia, subitamente começou a entrar num mundo paralelo tão real quanto tudo o mais que ele chamasse de real, com a diferença de que somente ele via o que via, e, portanto, tratava-se de algo subjetivo e não real para o resto do mundo.
Sua salvação não da esquizofrenia, mas sim da “loucura”, só foi possível porque ele admitiu a esquizofrenia, entregando suas decisões sobre o que era ou não real entre as coisas que via, ao julgamento de sua esposa.
Assim, confiando no juízo e no discernimento da esposa, e, sobretudo no seu amor por ele, foi que Nesh conseguiu viver com a esquizofrenia sem enlouquecer.
De vez em quando ele tinha de perguntar à sua mulher se as pessoas que estavam diante dele eram reais ou apenas subjetivas em sua percepção, e, assim, conseguiu, mediante a fé no amor de sua mulher, encontrar o termo de aferimento de sua própria realidade.
Esquizofrênicos de um grau ou outro, todos nós somos. Pode-se até não ver coisas ou ouvir vozes, porém, o elemento de falsificação do real habita as mentes de todos nós.
Sim! Nossas mentes são desconfiadas e cheias de impressões falsificadas.
Pensamos coisas sobre os outros que não são reais e interpretamos a vida com critérios de uma subjetividade que raramente casa com os fatos reais da existência.
É assim que o tímido é visto como arrogante silencioso, o falante é percebido como metido, o quieto é olhado como fraco, o prestativo enxergado como interesseiro, o recluso como anti-social, o triste como infeliz, o belo como bom, o feio como mal e o simples como tolo.
De fato quem se entrega à sua própria “disposição mental”, diz Paulo, acaba enlouquecendo dentro do padrão social aceitável da loucura, mas nem por isto fica livre de ver, ouvir, pensar e interpretar de modo equivocado a vida e o próximo.
Para Paulo, entretanto, o aferimento da realidade deveria ser feito de modo existencial pela Palavra.
Isto porque sem a Rocha da Realidade que é a Palavra Revelada, todos nós de um modo ou outro vivemos em “viagens”.
O outro está louco e viajante em suas percepções sobre nós; e nos vê, ouve e julga por tais subjetividades.
E, assim, provoca em nós uma outra falsificação: a do modo como o outro no vê; e a cuja percepção equivocada nós determinamos enfrentar, fazendo com que nossa própria mente caia imediatamente em outro terreno de subjetividade que afetará daí em diante a nossa própria percepção do outro e de nós mesmos, pondo-nos numa vereda de ilusão.
Quando Jesus mandou que não julgássemos Ele estava dizendo que o juízo equivocado (como quase sempre é em parte ou no todo) passa a ser o critério de nossa mente. Por isso é que com a medida com a qual medimos somos também medidos.
Todos os dias vejo como tais estados se tornam padrões inquestionáveis e fixos. E como a maioria não tem uma Alicia Nesh a fim de confiar e encontrar o termo da realidade, as pessoas vão engessando o padrão da interpretação enganada como realidade.
A salvação de John Nash esteve e está no fato de ele confiar no amor de sua mulher por ele, e, assim, conferir com ela o que era ou não real.
Ora, no que tange a Palavra como referenciadora do que seja ou não real conforme Deus para nós, seu poder de cura e equilíbrio para a mente vem da fé, assim como aconteceu com Nesh.
Sim! Se eu não me disponho a crer no amor de Deus por mim, e se não me ponho na estrada da fé que confia em Seu amor revelado em Cristo, conforme o Evangelho, e se não me entrego a tal realidade pela fé, fazendo aquietarem-se as minhas próprias impressões e juízos — sem dúvida eu e você ficamos loucos ou com a mente falsificada em suas apreensões da realidade.
Portanto, hoje, verifique quais são suas certezas sobre a vida e as pessoas, e veja se elas conferem com o que a Palavra diz.
É a fé na Palavra aquilo que pode me salvar de minhas próprias construções e miragens.
No entanto, ter gente de bom senso e de confiança, e que nos ame, sempre sendo consultados sobre nossas próprias impressões, é algo vital para a saúde de nossas mentes.
Fé e amor continuam a ser os únicos elementos capazes de preservar a integridade de nossas mentes num mundo de falsificações e de construções alucinadas.
Pense nisso!
Caio
10/01/08 – Dia em que meu filho Lukas estaria fazendo 26 anos de idade.
Lago Norte
Brasília
DF
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Leitura extra:
QUANDO ANDAR NA VERDADE ENFRENTA A REALIDADE.
Eu fico olhando em volta e me perguntando o que é real.
A realidade está lotada de irrealidades, de falsas impressões, de preconceitos, de prejulgamentos, de profundas neuroses e paranóias, de respostas inconscientes, de determinações feitas com certezas fundamentadas no solo da mentira, e tudo o mais…
Então, o que é real, se o que eu vejo é apenas a soma de nossas ilusões?
Há gente mal intencionada. E conscientemente agindo pelo mal e no mal, como escolha; como opção que só encontra prazer se alguém ficar muito mal.
Mas a maioria vive de ilusões!
E os que pensam saber o que é, ou algo perto disso, creia, ou está louco, ou, de fato, foi iluminado. Mas a segunda hipótese, a da iluminação, se apresenta vestida de sabedoria, misericórdia, justiça e bem senso. Tenha a cara que tiver, tais serão seus conteúdos.
A questão é que para viver o real, que a Bíblia chama de “andar na verdade”, muitas vezes eu tenho que ir contra a “realidade”, visto que esta é encharcada de ilusões, mentiras e doença do entendimento.
Se o mundo jaz no maligno, quem não se transforma está morto com o resto.
É pela transformação da mente que se começa a ver o real; o real na realidade, a realidade sem o real, e Aquele que é invisível.
Caio