“Ele não conhece catástrofes, mas somente atos de amor que excedem ao nosso entendimento, ao ponto de que até a Sua salvação nos pareça loucura”.
O livro de Gênesis nos diz que no princípio Deus criou os céus e a terra, mas também nos informa que a terra estava sem forma e catastrófica antes de iniciar-se este processo de criação que conhecemos — o 1º que conhecemos apenas, mas não o 1º como ato criador.
A criação começou somente Deus sabe quando. Zilhões de qualquer que seja a medida empregada… “Tempo” é apenas uma das possibilidades.
É digno de nota, no entanto, que o texto hebraico do Gênesis dê ênfase a dois fatos:
Na realidade a criação se organiza de catástrofe em catástrofe.
Entretanto, é bom dizer que o que o homem chama catástrofe, nem sempre Deus o chama.
Se destruir as obras do homem ou tirar a vida humana, então é catástrofe.
Deus, no entanto, não é Deus do homem apenas [custa ao homem crer nisto apesar do que Deus disse a Jonas]; e, além disso, Ele não vê como o homem vê. O homem vê o tópico do seu próprio umbigo e, então, chama Deus para discutir o “papel de Deus nas catástrofes”, a fim de ver se recebe alguma explicação.
Sim! Para o olhar humano o Catastrófico é tudo aquilo que seja aparentemente acidental e monstruoso, pra além de nossa visualização de poder e energia; e mais: algo que, se nos pusermos ainda que hipoteticamente no lugar de tal derrame de poder, nos faria desaparecer: isso é catástrofe para o homem.
Ora, é por causa desse olhar do homem que digo que Deus criou sempre de catástrofe em catástrofe; seja na Bíblia da Criação, a natureza e seus registros; seja na Bíblia da Revelação, as Escrituras; seja no Verbo da Vida, Jesus, em quem também vemos o mesmo padrão de criar de catástrofe em catástrofe: da cruz à ressurreição.
Tudo foi bombástico, chocante, avassalador, implosivo, explosivo, auto-aniquilantemente produtor de outro sistema de vida, etc.
Mas para que não viajemos demais no tempo, peço apenas que veja comigo o seguinte acerca da Terra como planeta.
A Terra, originalmente, era bem menor. Foi o choque da Terra com um planeta irmão — menor, mas não mais novo —, o que deu à Terra o volume de massa que ela hoje tem, sua gravidade, seu núcleo maravilhoso, seu ambiente prevalente de clima e marés, sua distancia precisa do sol, e mais: deu-lhe, também, sua Lua; posto que a Lua seja o ajuntamento da massa restante do antigo planeta irmão da Terra, e que agregou massa suficiente para ser o mais perfeito satélite possível para nós, no tamanho exato, na distancia certa, criando as dinâmicas naturais favorecedoras do desenvolvimento deste tipo de vida que há na Terra.
Assim, a própria Terra nasce de um sacrifício, de uma morte que trás vida!
Então, cada novo avanço na criação, pelo menos do ponto de vista de nossa observação cientifica dos fenômenos na Terra, foi marcado por catástrofe.
Até mesmo o surgimento dos mamíferos dos quais fazemos parte, aconteceu em razão da catástrofe que extinguiu os dinossauros e seu longo e uivante reino de poder sem consciência de si.
Para o Eterno, um segundo e uma eternidade são a mesma coisa!
Por isto, o homem sempre nasce do pó, pois, o homem é pó, é parte do chão das catástrofes.
O homem, no entanto, por ser consciente de si mesmo, por dizer “eu”, é agora o grande poder catastrofizante na Terra.
Sim! Pois, a Terra até resiste ao poder do Eu do Homem, que come tudo e devora todas as coisas. O homem, porém, não resistirá a si mesmo como catástrofe, e, se não houvesse a certeza da Nova Jerusalém para quem crê, poder-se-ia dizer que a Terra ficaria aqui ainda por muitos bilhões de anos, e que se refaria de nós, até que, em um bilhão de anos já não houvesse qualquer rastro de nossa infame passagem pelo planeta.
O homem catastrofizará a Terra até que venha a Grande Catástrofe; pois, ver-se-á os céus abertos, e o Filho do Homem com poder e grande glória.
Mas, não fora tal esperança, o que me sobraria em um mundo onde as catástrofes não carregam a inocência dos Tsunamis, mas sim a intencionalidade egoísta e homicida do maior poder do mundo: o do homem?
“Uma vez mais, porém, farei abalar os céus e a terra” — diz o Senhor.
E advém de tal abalo a nossa salvação!
Afinal, as impressões digitais das obras de Deus parecem nos oferecer esse padrão que vai de crise em crise, de catástrofe em catástrofe.
Antes de criar, uma catástrofe: o Cordeiro eterno é imolado.
Antes de fazer a Terra ser a Terra, uma catástrofe que a deixou sem forma e vazia.
Antes de separar um povo para o testemunho explicito na História, uma catástrofe: o Dilúvio.
Antes de vencer a morte, uma catástrofe: a morte; e, então, a Ressurreição.
Antes de se revelar ao homem individualmente uma catástrofe: a catarse e a crise da conversão.
Antes de renovar o entendimento, uma catástrofe: a dor do arrependimento convulsionando a existência de um novo mundo.
Nele, que não conhece catástrofes, mas somente atos de amor que excedem ao nosso entendimento, ao ponto de que até a Sua salvação nos pareça loucura,
Caio
26 de janeiro de 2009
Lago Norte
Brasília
DF
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Leitura complementar:
O GÊNESIS DO APOCALIPSE.
Gênesis e Apocalipse se parecem muito, pois, tanto o principio quanto o fim, mostram as mesmas coisas, apenas em escalas diferentes.
Deus não tem que fazer nada para julgar o mundo. Ele criou todas as coisas como Natureza; ou seja: como aquilo que é um sistema de auto-renovação, e evolução em total adaptabilidade. Portanto, aquilo que como natureza é vida, também pode ser morte e auto-extinção; pois, se caminha sem intervenções conscientes, vai sempre na direção da adaptação e da reinvenção de si mesma; todavia, quando sofre intervenções conscientes, como a dos humanos, o ciclo natural se quebra, e a natureza desvanece sob nossas vaidades contra ela.
E mais: ela se torna mutante contra nós: nascem cardos e abrolhos; e os partos se enchem de dores, o mundo se complexifica com roupas e coberturas, e o trabalho exaustivo de lavrar a terra com o suor do rosto, acabou por, no curso dos milênios, gerando o quadro anti-natural que hoje se vê.
O fato é que homem e natureza não conseguem se entender; ou melhor: o homem, de um modo geral, nunca enxergou, discerniu ou compreendeu sua dependência fundamental daquilo que se chama Natureza.
Na realidade, é que a capacidade de vê-la “de fora” — que é o que acontece com o homem —, dá a ele a falsa idéia de que como ele a enxerga, ele não faz parte dela. Como se natureza fosse apenas a parte da criação que não manifesta consciência própria.
De fato, a Natureza não tem consciência individual. Todavia, o sistema natural carrega um poder vital inconsciente; o qual, como sistema, é capaz tanto de acolher a harmonia, quanto também tem o poder de abalar, numa revolta que cresce na medida do agravo que contra ela é perpetrado.
No Gênesis é o encontro do homem com uma Natureza Proibida aquilo que o faz cair. Deus não fez nada. Foi a Natureza das coisas — “nossa” e da “natureza” —, aquilo que aconteceu como ira de Deus que julgou os homens; isso pela violação da Natureza Proibida. Assim, foi o homem quem criou sua própria queda, quando decidiu entrar na Natureza Proibida.
Poder comer de tudo, “menos de uma Árvore”, que era de Conhecimento do Bem e do Mal, era poder perceber que há um limite do homem na própria Natureza.
O mais foi desconstrução espiritual e psicológica que a invasão, pelo homem, da Natureza Proibida, gerou tanto na Natureza quanto no próprio homem. Pois, na mente, a Natureza das coisas é que a mente seja governada pela própria natureza da mente. E está é, mais que tudo, psicológica.
Dessa forma, a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal não existia como tal fora do homem, mas apenas na natureza de sua própria mente.
Nesse sentido, pode-se dizer, que nós fazemos sempre, como seres que existem da e na Natureza, aquilo que será nossa própria morte e juízo, sempre que em nossa natureza mental deixamos de obedecer nossos limites na Natureza.
No Apocalipse é assim também. A natureza faz todo o trabalho de juízo conforme o padrão contra ela praticado, apenas porque não sendo ela mesma e sem intervenções anti-naturais (coisa que somente o homem consegue realizar), sua natureza, nesse caso, é se desconstruir; posto que sua harmonia é em si tão grande, que todas as alterações que nela são feitas, acabam por se transformar numa espécie de desígnio do caos.
“Os poderes são abalados!”
No Apocalipse, a maior parte dos juízos são naturais; e são revoltas dos céus agindo na natureza aquilo que carrega a “ira do Cordeiro”. Daí o Apocalipse ser todo marcado por catástrofes naturais no ar, no mar, nos rios, na vegetação, e mediante catástrofes que sacodem a Terra de seu eixo.
De fato três são as denuncias do Apocalipse: contra os que não adoram ao Cordeiro (antes se entregam aos domínios das Bestas humanas e seus sistemas de domínio e morte), contra os que escravizam e manipulam a alma dos homens, e contra os que destroem a Terra.
O fato é que a “ira do Cordeiro” apenas deixa que os “anjos da natureza” (dos rios, dos mares, do ar, e das vegetações—todas essas menções feitas no próprio texto do Apocalipse), potencializem aquilo que sistematicamente os humanos praticam contra a Natureza; ou, no dizer bíblico mais comum, contra a criação.
Assim, no começo, a desgraça se deflagra a partir da invasão humana da Natureza Proibida. E, no final, é uma espécie de revolta sistêmica e ecológica aquilo que carrega o juízo do Cordeiro sobre a raça humana.
Foi a invasão da Natureza Proibida aquilo que tirou do homem toda a capacidade de ser parte da natureza, posto que uma vez que ele comeu da Natureza Proibida, ele foi tomado pelo surto de, como Deus, não ser parte da Natureza; e, assim, a violentou “de fora”, esquecido de que ele é Natureza também, e depende dela para ser quem é na Terra.
Desse modo, a presente devastação é apenas a manifestação com cara apocalíptica do estender de mão que um dia comeu e interviu na Natureza Proibida.
O tal Conhecimento do Bem e do Mal foi o que nos desconectou do sentido natural da vida.
Desse modo, o comer de uma árvore foi o que nos levou a destruir quase todas elas; assim como foi a invasão da Natureza Proibida aquilo que hoje nos volta como Veto da Natureza contra a presença humana na Terra.
A Natureza está gemendo. Fenômenos como o Tsunami e o Katrina, são apenas os primeiros espasmos de um parto que a Natureza não sabe como evitar, pois, esse filho ela quer abortar.
Jesus chamou isto de “principio das dores”. E, sem dúvida, não havendo um arrependimento em relação a Deus, ao que o homem faz ao homem, e quanto ao que ele mesmo faz à Natureza, o resultado inevitável, sem mão divina, mas apenas como conseqüência do homem ser como ele é —, é o próprio juízo que hoje já todos vislumbram.
Nele, que é o Cordeiro imolado por homens e pela Criação,
Caio